quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O CARTÃO AMARELO

Muitos pensarão que o cartão amarelo é um elemento "menor" num jogo, porque não produz efeitos práticos imediatos, e por isso lhe dão menos importância.
Eu penso precisamente o contrário. O cartão amarelo, para mim, é uma das coisas mais importantes e decisivas de uma partida de andebol, e tento ser criterioso na sua atribuição. Nem sempre consigo, é verdade, mas tenho consciência da importância da amostragem do cartão amarelo nos momentos certos.

Por jogo e por equipa, só podem ser mostrados 3 cartões amarelos. E isto não é por acaso. O "3" não é um número aleatório.
É assim, porque é o número considerado necessário para o árbitro definir a sua linha disciplinar ao longo do jogo, para dizer o que permite e o que será sancionado disciplinarmente. Detesto ver amarelos serem mostrados "só porque sim", ou dados "só para gastar". Isso faz-me muita impressão.
Eu encaro os 3 cartões amarelos permitidos como munições de um revólver, passo a expressão bélica... E penso assim porque têm de ser certeiros, porque depois daqueles não tenho mais. Têm de ser dados no momento certo.

E o momento certo pode ser no primeiro segundo ou aos 15 minutos. Em jogos de camadas mais jovens, em que os miúdos muitas vezes mal pegam na bola e em que a nossa actuação tem de ser um misto de rigor e pedagogia, o momento certo pode até ser mais distante no tempo. É preciso mostrá-lo quando temos de passar a mensagem de "Isto eu não permito".
Um cartão amarelo não mostrado poderá indicar que o árbitro tolerará aquele comportamento, pelo que sancionar mais tarde será uma incoerência. Um cartão amarelo mostrado por determinada situação e mais tarde, numa situação idêntica, a mesma passar em branco, será outra incoerência. Por isso é que a manutenção de um critério disciplinar 100% uniforme ao longo de um jogo é algo tão, mas tão difícil. Gerir um jogo é extremamente complicado, e só quem está lá dentro consegue ter essa percepção. Eu não tinha, antes de ser árbitro, e joguei 8 anos.

Obviamente, não vou dar um cartão amarelo numa rasteira ou num soco, porque isso está além da linha que qualquer árbitro permitirá, mas há ocasiões ideais para marcar o limite pelo qual o jogo será regido.

Com este post não vou discutir quais os tipos de falta que merecerão cartão amarelo ou não. Quero apenas chamar a atenção para a importância da advertência no contexto global de um jogo.

sábado, 22 de janeiro de 2011

APITO NO LANÇAMENTO DE SAÍDA

Foi-me colocada mais uma questão, que respondo por aqui:

QUESTÃO
Por falar em Campeonato do Mundo, muitas vezes os árbitros quando apitam para sair a bola depois de um golo no meio campo o pivot espera que o seu colega por exemplo o ponta avance alguns metros no meio campo adversario e so depois lhe passa a bola. Nada de ilegal nestes lances ?

RESPOSTA
Absolutamente nada de ilegal. Após o apito, os jogadores são livres de passar a linha do meio campo sem que o jogador que faz a reposição largue antes a bola. Pela regra:
10:3 O lançamento de saída é executado em qualquer direcção a partir do centro do terreno de jogo (com uma tolerância lateral de cerca de 1.5 metros). É precedido por um sinal de apito, após o qual deve ser executado dentro de 3 segundos. O jogador que executa o lançamento de saída deve estar com pelo menos um pé em contacto com a linha central e o outro pé sobre ou atrás da linha e deve permanecer nessa posição até a bola deixar a sua mão. 

Há ainda o Esclarecimento nº5, que num seu excerto, refere:
(...) Os árbitros também têm que ter em conta que os companheiros de equipa do executante estão autorizados a cruzar a linha central assim que o apito soar. (isto é uma excepção do princípio básico para a execução de lançamentos). (...)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

BOLA PARADA NO SOLO

Em relação à dúvida colocada no último post, como comentário, respondo hoje.

QUESTÃO:
Estou a ver uma partida do Mundial masculino (das que não passarão na Sport TV), e aconteceu dum jogador estar a bater a bola, mas perdeu contacto com ela, sendo que a bola ficou parada no chão sem ser tocada por alguns segundos, em que foi movimentada por um companheiro de equipa.

Com a bola parada nestas condições, isso não pode ser considerado posse de bola daquele jogador? Ou seja, se, nestas condições, a bola estiver parada mais do que 5 segundos, esse facto não é considerado falta atacante?

RESPOSTA:
Não, de forma alguma. O facto de a bola estar parada no chão, torna-a livre de ser jogada por um qualquer jogador.
Por que motivo seria aquele jogador o elemento em posse de bola, e não outro, que se calhar até estaria mais perto?
Até porque o conceito de "falta atacante" arrasta consigo o de "invasão/ocupação de espaço", e não se pode assinalar passos porque o jogador não está sequer com a bola controlada, quanto mais em seu poder.
Por isso, lance legal, sem infracção.

Só se considera bola em posse de um jogador, estando parada no solo, quando isso acontece dentro da área de baliza.
Ou melhor, não é um "em posse de...". É um "só pode ser tocada por...".

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

INTERFERÊNCIA EXTERNA

Bom dia a todos.
No último post, colocaram-me uma questão e opto por fazer dela um novo tópico. Transcrevo:

"Tenho uma duvida e por não encontrar mais sítio onde tentar esclarecer deixo aqui a pergunta.
Num jogo em que o guarda-redes esta fora da baliza (por hipótese está a participar no ataque ou junto ao seu banco a beber agua, um adversário remata à baliza, e no preciso momento em que a bola viaja no ar para dentro da baliza, um holofote ou candeeiro do pavilhão cai sobre a bola e impede a entrada da mesma na baliza, impensável mas pode acontecer, que deve assinalar o árbitro?"

Resposta:
O comentário à regra 9:1, existente no livre de regras, diz textualmente que:

9:1 Comentário:
Um golo é válido se a bola é impedida de entrar na baliza por alguém ou algo não participando no jogo (espectadores etc.), e os árbitros estão convencidos de que a bola teria ultrapassado a linha de baliza e entrado na baliza caso tal acção não tivesse tido lugar.

Trocando por miúdos... Os árbitros têm de estar 100% convencidos de que a bola entraria mesmo na baliza se o elemento interferente não impede a bola de o fazer. Não pode haver dúvidas, nem os árbitros podem achar que "era possível" que a bola entrasse.
Como me parece claro, se a bola está muito distante da baliza, muito dificilmente esse julgamento pode ser feito em plena consciência, salvo algum caso excepcional. Mas com a bola muito perto da baliza, dá para se ter noção se ela "com certeza entraria", pelo que se deve validar o golo.

Não é tão impensável assim isto acontecer... Extremamente raro, mas não impensável. Num jogo meu, há uns anos, caiu um candeeiro que se desprendeu do tecto. Por acaso não acertou em nada nem em ninguém, mas se o imaginarmos a acertar na bola quando esta ia para a baliza deserta, eu teria de validar o golo...